segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

A vida sempre renasce



"Em tempo no qual os cristãos promovem a vivência da fraternidade e da paz, Dom Orani recebeu uma cópia da obra ‘Por uma cultura de paz’, do cartunista Carlos Latuff”.

Magistrados se reuniram na semana passada com Dom Orani João Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, para a celebração do Advento. O Advento é o primeiro tempo do ano litúrgico e corresponde aos dias que antecedem o Natal. Para os cristãos, é um tempo de preparação, de alegria e de expectativa, onde os fiéis, esperando a data da comemoração do nascimento de seu Deus, vivem o arrependimento e promovem a fraternidade e a paz.


Tal como nos eventos relatados na literatura cristã, onde Cristo se reunia, dividia o pão e servia vinho, não faltou boa comida no encontro. O jantar no Palácio Episcopal dignificou os convidados. Mas a iguaria foi a recepção e o diálogo com o anfitrião. Em linguagem coloquial, entre sorrisos discretos, Dom Orani falou aos comensais em seu tom pastoral e evangelizador.

Em tempo no qual os cristãos promovem a vivência da fraternidade e da paz, Dom Orani recebeu uma cópia da obra ‘Por uma cultura de paz’, do cartunista Carlos Latuff. A obra, exposta no Fórum do Rio de Janeiro, causou polêmica, em razão da incompreensão ou atingimento dos interesses daqueles que promovem e — possivelmente — se beneficiam da ‘guerra ao crime’.


Acompanhando a cópia da obra, recebeu também o artigo ‘Pela cultura da paz’, publicado no DIA em 28 de agosto, e autografou o seu artigo ‘Supliquemos pela paz’, que fizera publicar em outro órgão da imprensa carioca em 6 de setembro.

A polêmica criada em razão da exposição da obra de Carlos Latuff no Fórum serviu para que um limão fosse transformado em limonada. A controvérsia propiciou um leilão e, com o produto, a aquisição de uma casa para a família do pedreiro Amarildo, que, como tantas outras famílias vitimadas pela cultura da violência, vivenciará no Dia de Natal a ausência de um ente querido, quando o sentimento haveria de ser a fraternidade e celebração de nascimento.

Amarildo é o desaparecimento que tem nome. Mas, além das famílias dos desaparecidos, famílias igualmente vivenciarão a ausência de entes queridos, mortos pela política de segurança militarizada, dentre os quais os filhos da juíza Patrícia Acioli.

A censura à obra de arte não a aniquilou. Ao contrário, a promoveu. Arrematada por uma desembargadora paulista, hoje se encontra exposta no Tribunal de Justiça de São Paulo. Os que promovem a guerra não são capazes de matar a esperança e eliminar a possibilidade de vida; e vida com abundância. Independentemente de nossas concepções filosóficas, podemos afirmar que a vida sempre renasce.

 

Publicado originariamente no jornal O DIA, em 22/12/2013, pag. 16. Link: http://odia.ig.com.br/noticia/opiniao/2013-12-21/joao-batista-damasceno-a-vida-sempre-renasce.html

 

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