“Política agroexportadora pressiona os povos indígenas, subtraindo-lhes
a cultura e a terra. Conflitos em terras indígenas causam mortes e desaparecimentos”.
Chegamos a 2014. Não há sinal de que
algo tenha mudado, a não ser o calendário, que propicia a contagem do tempo, as
ocorrências e, nas instituições, o ano civil. Este calendário foi instituído
pelo Papa Gregório XIII em 1582, em substituição ao calendário Juliano. O ano
de 2013 foi desastroso para os direitos e a vida no Brasil. A política
agroexportadora pressiona os povos indígenas, subtraindo-lhes a cultura e a
terra. Conflitos em terras indígenas causam mortes e desaparecimentos.
O modelo exportador de soja, carne
bovina e minério, tal como se fez com o pau-brasil no período pré-colonial, com
o açúcar e o ouro no período colonial e o café no império e 1ª República,
remete nossas riquezas para o exterior, deixando um rastro de miséria e
degradação ambiental. As demandas sociais são jogadas para debaixo do tapete ou
reprimidas pela força de um Estado que sempre se afirmou pela coerção, a cada
dia mais truculenta.
O número de desaparecidos no Rio de
Janeiro continuou a crescer. O sumiço de pessoas é herança da ditadura
empresarial-militar de 1964, que convive com o que se denomina Estado
Democrático de Direito. Nas comunidades ocupadas militarmente já não se
registram tantos autos de resistência, modalidade de homicídio no qual os
agentes do Estado justificam-se alegando legítima defesa, mas aumentam o número
de desaparecidos. Amarildo é apenas o desaparecido que tem nome.
Neste ano teremos Copa do Mundo,
eleições e reforço das forças políticas reacionárias ao nosso processo
histórico. A falta de políticas públicas é remediada por políticas
assistencialistas. As sementes dos conflitos estão plantadas, e os aparelhos
repressivos, violadores dos direitos humanos, estão enraizados na estrutura do
Estado.
Falta saúde pública, escola e projeto
educacional, transporte público adequado e sobretudo transparência nas tomadas
de decisão quanto às políticas públicas. Enquanto o Bolsa Família, programa
assistencialista mas necessário, gasta R$ 13 bilhões por ano do orçamento, as
pensões militares — incluindo das filhas solteiras que votam na família de
deputados que desprezam a democracia, mas que defendem seus direitos — gastam
R$ 26 bilhões.
Com as obras para a Copa foram cerca
de R$ 40 bilhões, para alegria das empreiteiras e dos políticos por elas
financiados. O dinheiro do BNDES entregue ao ex-bilionário amigo do poder
esvaiu-se na roleta do sistema financeiro internacional. O ano mudou. Nada
mudou. Mas pode mudar.
Publicado originariamente no jornal O DIA, em 05/01/2013, pag. 12. Link: http://odia.ig.com.br/noticia/opiniao/2014-01-04/joao-batista-damasceno-ano-novo-e-velhas-mazelas.html
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