“Quem ler
matérias em determinados veículos de empresas de comunicação que patrocinaram o
golpe empresarial-militar de 1964 saberá o quanto os ministros Victor Nunes
Leal, Hermes Lima e Evandro Lins e Silva foram atacados por seus
posicionamentos em favor das liberdades públicas. Ao final, restaram todos
vitimados pelo arbítrio: os ministros cassados e a liberdade de informação
cerceada. Havemos de reafirmar o Estado Democrático de Direito”.
Já não bastam manifestos por uma
cultura de paz. É preciso exigir o fim da violência política das forças
desestabilizadoras da democracia. Ao Estado cabe possibilitar o desarmamento
dos ânimos e fazer valer os preceitos da Constituição.
A morte do cinegrafista Santiago
Andrade, da Band, não é a primeira morte de profissional de comunicação em
cobertura de conflitos. A morte do repórter cinegrafista Gelson Domingos,
também da Band, já denotava a necessidade de segurança aos profissionais das
empresas de comunicação. A violência que suportam não é apenas a simbólica,
entremeada no produto de suas atividades.
A Associação Brasileira de
Jornalismo Investigativo (Abraji) apurou casos de agressões contra jornalistas
durante as manifestações e protestos. Agentes do Estado cometeram 75% delas, e
manifestantes, 25%. Ninguém, menos ainda um trabalhador no exercício da função,
há de ser agredido.
Assim como a opção pela luta
armada serviu para justificar a truculência do regime empresarial-militar, a
ação de infiltrados nas manifestações concorre para legitimar o Estado Policial
que ascende. Da resistência à ditadura participaram jovens que hoje dirigem o
país, a quem compete evitar a supressão dos direitos.
A liberdade de imprensa não há de
ser apenas um discurso ou um artigo da Constituição. Há de compreender
garantias, também, aos jornalistas. Desde junho, milhões de cidadãos se
expressam pelo Brasil, demonstrando a vitalidade da nossa democracia.
Mas há quem — dentre os
manifestantes e no aparato do Estado — acrescente a elas o ingrediente
inapropriado da violência. O direito de manifestação não há, também, de ser
apenas um discurso ou um artigo da Constituição. O Golpe de Estado que não
se consumou quando da denúncia do Mensalão — porque faltou povo que o apoiasse
— nem durante as legítimas manifestações de junho não pode ser convertido em
golpe contra os direitos, seja de manifestação, de reunião, de ampla defesa e
de exercício da advocacia.
Com tal golpe, o legado da Copa
haverá de ser o entulho do autoritarismo. É inadmissível a supressão dos
direitos e o ataque aos que os defendem, sejam militantes, jornalistas,
defensores públicos, promotores, magistrados ou advogados.
Quem ler matérias em determinados
veículos de empresas de comunicação que patrocinaram o golpe
empresarial-militar de 1964 saberá o quanto os ministros Victor Nunes Leal,
Hermes Lima e Evandro Lins e Silva foram atacados por seus posicionamentos em
favor das liberdades públicas. Ao final, restaram todos vitimados pelo
arbítrio: os ministros cassados e a liberdade de informação cerceada. Havemos
de reafirmar o Estado Democrático de Direito.
Publicado originariamente no
jornal O DIA, de 16/02/2014, pag. 14 Link: http://odia.ig.com.br/noticia/opiniao/2014-02-15/joao-batista-damasceno-mais-uma-tentativa-de-golpe.html
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