“A presidenta Dilma recebeu parte
dos 22 milhões de votos da candidata do PSB derrotada no primeiro turno, Marina
Silva. Mas, foram os três por cento de eleitores que votaram nulo e branco no
primeiro turno, que adotando o voto útil, salvaram a presidenta da derrota.
“A direita expulsou os setores populares das ruas, mas o ministro da
Justiça contribuiu para que isso acontecesse. Se a presidenta continuar a
reforçar a concepção política da direita, com o emprego do Exército contra as
populações pobres das favelas, sem uma política de direitos humanos, reprimindo
os movimentos populares, com descaso à questão indígena, sem política ambiental
e tentando cooptar os empresários de comunicação (rádio e televisão que são
concessões públicas) com verba de publicidade em vez de propor uma
regulamentação republicana, a direita vai ganhar as ruas e o poder”.
Eu nunca tinha
visto a direita tão raivosa e incivilizada como vi no dia da eleição. Na Zona
Sul do Rio, senhores identificados como partidários do candidato oposicionista
atacavam, com os cabos das bandeiras, os carros dos eleitores da candidata à reeleição.
Não eram adolescentes. Mas, homens velhos, com idade superior a 50 anos,
carregados de ódio, numa euforia mórbida bem diferente da euforia contagiante
com que atuam os adolescentes capazes de excessos decorrentes da falta de
vivência.
As senhoras que os
acompanhavam pareciam nunca ter tomado sol. Tinham uma cor pálida, pele
empoada, cabelos tingidos, roupas de grife e óculos escuros. Mas, igualmente
raivosas e histéricas. Andavam em bloco xingando quem fosse identificado com a
candidata à reeleição. Tratava-se de gente que costuma discursar em prol da
elegância.
Apurado o
resultado, o mesmo setor da sociedade começou a falar em impeachment ou
separatismo do sul-sudeste do Brasil. Que Brasil querem mudar, se não mudam a
si próprios? Falam das mazelas alheias como moralistas cuja ética é a falta de
ética.
A demonstração
colérica e incivilizada de tais setores forçou a opção de quem se absteria,
votaria nulo ou branco; seu ódio inspirava medo. A abstenção, como sempre,
cresceu no segundo turno em relação ao primeiro. Cresceu pouco e foi inferior
ao segundo turno da eleição de 2010.
A soma dos votos
nulos e brancos no segundo turno reduziu exatos três por cento. A presidenta
foi reeleita com 3,28% de diferença. Se os eleitores tivessem repetido os votos
brancos e nulos do primeiro turno, isto poderia ter influenciado outros fatores
e ela não se reelegeria.
A candidatura do
opositor cresceu do primeiro para o segundo turno 16 milhões de votos. A da
presidenta apenas 11 milhões. Os votos de Luciana Genro (Psol), Eduardo Jorge
(PV), Zé Maria (PSTU), Mauro Iasi (PCB) e Rui Costa Pimenta (PCO), considerados
à esquerda, no primeiro turno, somaram menos de dois milhões e quatrocentos mil
votos.
A presidenta Dilma
recebeu parte dos 22 milhões de votos da candidata do PSB derrotada no primeiro
turno, Marina Silva. Mas, foram os três por cento de eleitores que votaram nulo
e branco no primeiro turno, que adotando o voto útil, salvaram a presidenta da
derrota.
A direita expulsou
os setores populares das ruas, mas o ministro da Justiça contribuiu para que
isso acontecesse. Se a presidenta continuar a reforçar a concepção política da
direita, com o emprego do Exército contra as populações pobres das favelas, sem
uma política de direitos humanos, reprimindo os movimentos populares, com
descaso à questão indígena, sem política ambiental e tentando cooptar os
empresários de comunicação (rádio e televisão que são concessões públicas) com
verba de publicidade em vez de propor uma regulamentação republicana, a direita
vai ganhar as ruas e o poder.
Publicado originariamente no jornal O DIA, em 02/11/2014,
pag. E6. Link: http://odia.ig.com.br/noticia/opiniao/2014-11-02/joao-batista-damasceno-o-medo-venceu-o-odio.html
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