“Mussolini chegou
ao poder em 1922, com a Marcha sobre Roma, ano do início das obras da Alerj.
Concepções totalitárias já permeavam as relações sociais no mundo. Hitler
tentou em 1923 uma Marcha sobre Berlim, acabou preso e na prisão escreveu
‘Minha Luta’. No Brasil o ideário totalitário sobrevivia nos subterrâneos. Para
entender o período é preciso visitar as preocupações intelectuais dominantes da
época, a Semana de Arte Moderna, o Levante Tenentista e a fundação do PCB,
todos em 1922, bem como as discussões nos anos 20 das quais resultaram as obras
de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda nos anos 30.
“O Palácio Tiradentes é um
belo monumento, ainda que recheado de símbolos fascistas. O que havemos de
repudiar é o fascismo e suas práticas entranhadas nas instituições, sobretudo
as jurídicas, e não um prédio que apenas retrata um período da historia”.
Matéria jornalística põe em dúvida se
o machado, cujo cabo é um feixe, encontrado nas calçadas, postes e mobiliário
da Alerj tem relação com o fascismo italiano. Quem nega diz que os símbolos são
romanos e que foram, também, adotados pelo fascismo. O mesmo se pode dizer da
suástica nazista, que veio da hindu, e tentar desvinculá-la daquele regime
totalitário.
Uma questão de vestibular nos anos 90
pedia a interpretação de ‘Dom Casmurro’, de Machado de Assis. A resposta tida
como correta era a que considerava o adultério de Capitu mera imaginação de
Bentinho, o personagem-narrador. Carlos Heitor Cony se insurgiu: “Não ensinem
errado aos meninos!” Baseou-se nos ‘Diários Secretos’ de Humberto de Campos.
Antonio Carlos Vilaça abordou o assunto em ‘O Livro dos Fragmentos’. Machado
vivera um romance com Ana Cochrane, mulher de José de Alencar, e não contava
para ninguém. Mas os demônios que lhe corroíam a alma somente se aquietavam
quando ele fofocava pelos livros. Ele é Escobar; José de Alencar, filho de
padre, o Bentinho; Ana, a Capitu, e Mário de Alencar, o Ezequiel. Triângulo amoroso
é, também, o fio condutor de ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’, assim como da
obra de Machado, que é autobiográfica.
Sobre os símbolos no Palácio
Tiradentes é preciso repetir: não ensinem errado! Para a matéria ouviram
geógrafos, historiadores e antropólogos. Historiadores fundamentam a dúvida na
falta de prova, tal como o detetive que investigara um adultério, mas não tinha
prova, pois o casal espionado, após se despir, apagara a luz. O geógrafo foi
quem passou mais longe ao citar Getúlio Vargas, pois o prédio da Alerj foi
inaugurado em 1926, e Vargas governou a partir de 1930. Nenhum cientista
político foi ouvido.
Mussolini chegou ao poder em 1922,
com a Marcha sobre Roma, ano do início das obras da Alerj. Concepções
totalitárias já permeavam as relações sociais no mundo. Hitler tentou em 1923
uma Marcha sobre Berlim, acabou preso e na prisão escreveu ‘Minha Luta’. No
Brasil o ideário totalitário sobrevivia nos subterrâneos. Para entender o
período é preciso visitar as preocupações intelectuais dominantes da época, a
Semana de Arte Moderna, o Levante Tenentista e a fundação do PCB, todos em
1922, bem como as discussões nos anos 20 das quais resultaram as obras de
Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda nos anos 30.
O Palácio Tiradentes é um belo
monumento, ainda que recheado de símbolos fascistas. O que havemos de repudiar
é o fascismo e suas práticas entranhadas nas instituições, sobretudo as
jurídicas, e não um prédio que apenas retrata um período da historia.
Publicado
originariamente no jornal O DIA, em 22/06/2015, pag. E6. Link: http://odia.ig.com.br/noticia/opiniao/2015-06-20/joao-batista-damasceno-nao-ensinem-errado.html
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