“A mandioca, tal como a batata,
sacia a fome. Atende
aos reclamos do estômago. Mas apenas resolve o problema imediato. O futuro se
constrói com o que é sólido e duradouro. Além da mandioca é preciso plantar
árvores frutíferas para as gerações futuras.
“A Câmara dos Deputados acaba de
aprovar em primeiro turno a redução da maioridade penal. O fisiologismo e a
pressa em forrar estômagos famintos e goelas escancaradas não permitiram ver
que a medida é o plantio da espécie venenosa da mandioca, que haverá de
intoxicar a todos. Uma minoria demonstrou que o futuro se faz plantando árvores
frutíferas e carvalhos, que demoram para ser colhidos, mas que com eles se
constroem casas permanentes, e não apenas choupanas”.
A saudação da presidenta Dilma à mandioca ainda
ecoa entre seus críticos, incapazes de relativizar sua dificuldade de
improviso. Inegável que a mandioca foi fonte alimentar importante para as
populações originárias. Muitos dos mitos indígenas, modos de viver e cultura
podem ter sido plasmados pela apropriação da raiz.
Os povos têm sua cultura relacionada com seus hábitos alimentares. Alguns
vegetais, de rápida produção, impediram que populações morressem de fome. O
milho nas Américas do Norte e Central e a batata nos Andes tiveram direta
contribuição na cultura dos astecas, maias e incas. E a mandioca para os
tupinambás.
Eduardo Frieiro, no livro ‘Feijão, Angu e Couve’,
pretendeu relacionar o hábito alimentar e a cultura mineira. Mas este
intérprete do Brasil,
não concebendo o que é a mineiridade, acabou por concluir que se trata de
comida que se come em todo lugar e que o brasileiro não tem hábitos alimentares
‘sofisticados e civilizados’. Seu elogio ao bife com batatas fritas, para ele
coisa de ‘hábitos superiores’, demonstra um pensamento colonizado, sem entender
a riqueza cultural brasileira, com ampla diversidade, inclusive culinária.
Na Europa da Idade Média, quando as condições
climáticas quebravam a produção agrícola, morria-se de fome. Os castelos, onde
se guarneciam alimentos, eram circundados com fossos a fim de impedir a
aproximação das hordas de famintos. Os mosteiros ficavam no topo de montanhas,
em lugares de difícil acesso. A segurança que se pretendia não era apenas
contra os inimigos, mas sobretudo contra os pobres que perambulavam em busca de
comida. Foi a batata que salvou o mundo da fome e, a partir da sua disseminação
pelo mundo, a questão decorreu da distribuição de renda, e não mais da produção
alimentar. Banco genético de batatas registra milhares de espécies, todas
advindas dos Andes peruanos.
A mandioca, tal como a batata, sacia a fome. Atende
aos reclamos do estômago. Mas apenas resolve o problema imediato. O futuro se
constrói com o que é sólido e duradouro. Além da mandioca é preciso plantar
árvores frutíferas para as gerações futuras.
A Câmara dos Deputados acaba de aprovar em primeiro
turno a redução da maioridade penal. O fisiologismo e a pressa em forrar
estômagos famintos e goelas escancaradas não permitiram ver que a medida é o
plantio da espécie venenosa da mandioca, que haverá de intoxicar a todos. Uma
minoria demonstrou que o futuro se faz plantando árvores frutíferas e
carvalhos, que demoram para ser colhidos, mas que com eles se constroem casas permanentes,
e não apenas choupanas.
Publicado originamente
no jornal O DIA, em 05/078/2015, pag. E6. Disponível no link: http://odia.ig.com.br/noticia/opiniao/2015-07-05/joao-batista-damasceno-mandioca-e-carvalho.html
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