“Em entrevista, o
governador Pezão disse que “enquanto houver consumo, as pessoas procurando, se
viciando, vai ter guerra pelo tráfico” e que “boca de fumo dá muito dinheiro”.
O governador finalizou dizendo que o Rio não está preparado para discutir a
legalização das drogas.
“A questão não é de
preparo, mas de interesse. Governantes e empresários não estão preparados para
o não encarceramento, pois estão ávidos pela privatização do sistema prisional.
A descriminalização e regulamentação da produção, comércio e consumo de drogas
poderá frustrar as expectativas de quem pretende lucrar com a guarda de presos,
transformando a liberdade alheia em mercadoria. A afirmativa do governador
sobre a “guerra pelo tráfico” coincide com a da professora que disse que as
UPPs sufocaram a facção Comando Vermelho e, com isso, a rival ADA ganhou mais
espaço e dinheiro”.
A entrevista no DIA do domingo
passado com Elizabeth de Lima Gil, que foi professora de Celso Pinheiro
Pimenta, o Playboy, morto pela polícia, deveria ser lida e refletida por todos
os que se ocupam ou se preocupam com o sistema de justiça.
A professora trabalhou no sistema
prisional por sete anos e abordou suas mazelas. Ao falar do ex-aluno, disse que
ele começou a usar drogas e depois a roubar para sustentar o vício; que a
proibição o levou ao tráfico e depois para as armas; que as UPPs sufocaram a
facção Comando Vermelho e, com isso, a rival ADA ganhou mais espaço e dinheiro
para negociar armas; que dentro do presídio tem tráfico de drogas; que a droga
para o tráfico não entra pelas mulheres em dia de visita; que numa ala do
presídio o cheiro de maconha é insuportável; que, no presídio, Playboy consumia
mais do que aqui fora e que há uniforme, mas ele usava roupa de marca.
Elizabeth fez propostas. Disse achar
importante discutir o problema da descriminalização; da necessidade de equipe
de assistente social, psicólogo e médico para ajudar na recuperação; mostrou-se
contrária à redução da maioridade penal, pois o ECA já prevê medidas
socioeducativas a partir dos 12 anos; que é preciso qualificar as instituições
prisionais e melhorar a formação profissional para agentes e detentos e que a
prisão não elimina o problema, pois o preso sai e poderá voltar pior para as
ruas.
Em entrevista, o governador Pezão
disse que “enquanto houver consumo, as pessoas procurando, se viciando, vai ter
guerra pelo tráfico” e que “boca de fumo dá muito dinheiro”. O governador
finalizou dizendo que o Rio não está preparado para discutir a legalização das
drogas.
A questão não é de preparo, mas de
interesse. Governantes e empresários não estão preparados para o não
encarceramento, pois estão ávidos pela privatização do sistema prisional. A
descriminalização e regulamentação da produção, comércio e consumo de drogas
poderá frustrar as expectativas de quem pretende lucrar com a guarda de presos,
transformando a liberdade alheia em mercadoria. A afirmativa do governador
sobre a “guerra pelo tráfico” coincide com a da professora que disse que as
UPPs sufocaram a facção Comando Vermelho e, com isso, a rival ADA ganhou mais
espaço e dinheiro.
Publicado originariamente no
jornal O DIA, pag. 18, em 23/08/2015. Link: http://odia.ig.com.br/noticia/opiniao/2015-08-22/joao-batista-damasceno-pezao-professora-e-a-guerra-pelo-trafico.html
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