"Acompanhando
outros magistrados da Associação Juízes para a Democracia, visitamos uma das
escolas ocupadas pelos estudantes. Impressionou-nos a todos o grau de clareza e
organização de adolescentes que, ainda muito jovens, já se mostram qualificados
para o exercício da cidadania e autonomia. Ao sair do encontro com os
estudantes, um jornalista nos perguntou sobre como imaginávamos o fim daquela
ocupação. Não se trata de perguntar como será o fim da ocupação. Mas como será
a sua continuidade".
A democracia não é o regime onde
todos vivem em concordância. Ao contrário, é o regime no qual todos podem
divergir e expressar a divergência respeitosamente. O regime no qual não se
pode divergir são as ditaduras. O recurso da democracia é o diálogo, e o dos
regimes autoritários, a violência. Em determinados momentos, quando se precisa
tomar decisão, usa-se nas democracias a colheita da vontade da maioria. Mas a
maioria — nas democracias — não é absoluta. Ela se expressa em respeito às
minorias. Somente nos regimes totalitários as maiorias tratam as minorias como
dissidentes e as eliminam.
A ocupação de escolas estaduais por
alunos, em apoio à greve dos professores, é divergência que somente numa
democracia se pode exercer. Não se trata de esbulho ou invasão, pois não se
pretende desapossar o Estado. O governador em exercício, cuja geração é marcada
pela atuação estudantil notadamente pela ‘Faculdade do Caco’, onde estudou,
compreende esta linguagem. Permeado por valores familiares e sociais próprios das
elites liberal mineira e positivista gaúcha, o governador afasta a
possibilidade de utilização da força do Estado para entrada nas escolas
ocupadas por quem tem o direito de nelas estudar e ficar. E sugere o diálogo.
Acompanhando outros magistrados da
Associação Juízes para a Democracia, visitamos uma das escolas ocupadas pelos
estudantes. Impressionou-nos a todos o grau de clareza e organização de
adolescentes que, ainda muito jovens, já se mostram qualificados para o
exercício da cidadania e autonomia. Ao sair do encontro com os estudantes, um
jornalista nos perguntou sobre como imaginávamos o fim daquela ocupação. Não se
trata de perguntar como será o fim da ocupação. Mas como será a sua
continuidade.
O desejo de todo professor é envolver
os alunos nos projetos e destinos das instituições educacionais onde
desempenham suas funções. Os alunos demonstram estar envolvidos e comprometidos
com as escolas nas quais estudam e ocupam e com o sistema educacional. Formulam
pautas reivindicatórias específicas e gerais, falando com propriedade sobre os
problemas que vivenciam e apontam soluções. Cabe aos dirigentes do sistema
educacional ir ao encontro deles e juntos construírem um novo capítulo na história
da educação deste estado.
Publicado originariamente no jornal O
DIA, em 10/04/2014, pag. 16. Link: http://odia.ig.com.br/opiniao/2016-04-10/joao-batista-damasceno-lugar-de-estudante-e-na-escola.html
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