“Defensores de
direitos sociais, sem definição do espectro ideológico no qual se situam, podem
assumir qualquer viés. Normalmente tendem à direita e ao oportunismo, sejam militantes
pelos direitos humanos, feministas, movimento negro ou outros. Desde a
antiguidade há pouca gente capaz de recusar um prato de lentilhas”.
A professora Flávia Piovesan, jurista,
feminista e militante pelos Direitos Humanos foi convidada para o cargo de
Secretária de Direitos Humanos e aceitou. Será subordinada ao Ministro da
Justiça Alexandre de Moraes, cuja trajetória e história merecem artigo
exclusivo. Vai integrar um governo interino composto exclusivamente por
ministros homens. Outras mulheres, anteriormente, recusaram o convite. A
discussão sobre a legitimidade do presidente interino, o rebaixamento do nível
do cargo que era ministério e a descrença na possibilidade de desempenho de qualquer
política de valorização dos direitos inerentes à pessoa humana num cenário de
predomínio dos interesses do capital em prejuízo das pessoas motivaram as
recusas, além de ser um governo repleto de figurinhas carimbadas com atributos
que não se caracterizam por virtudes republicanas.
A derrubada de uma presidenta
eleita com 54 milhões de votos ainda causa perplexidade e nos rememora o tempo da
UDN que somente reconhecia a legitimidade das eleições que vencia. Depois da
eleição do presidente Lula em 2002 as eleições jamais foram tranquilas. A mídia
corporativa levou os pleitos de 2006, 2010 e 2014 para o segundo turno com
denúncias que apenas se noticiavam durante o período eleitoral. Nas eleições de
2006 um acidente de avião provocou a acusação de falta de ranhuras na pista
reformada do aeroporto de Congonhas. Depois da eleição se noticiou que o defeito
era da aeronave. Na eleição de 2010 o tema badalado diariamente foi uma
acusação à ministra Erenice Guerra. Passada a eleição o telejornal de maior
audiência anunciou, em míseros 17 segundos, que tudo o que noticiara fora
arquivado a pedido do MP. O clima nas eleições de 2014 foi tenso e o resultado
não foi acolhido pelos perdedores que articularam o golpe que afastou a
presidenta. A composição do governo por pessoas cujo projeto foi rejeitado nas
urnas é uma ofensa à democracia e um desrespeito ao povo brasileiro.
Defensores de direitos sociais, sem
definição do espectro ideológico no qual se situam, podem assumir qualquer
viés. Normalmente tendem à direita e ao oportunismo, sejam militantes pelos
direitos humanos, feministas, movimento negro ou outros. Desde a antiguidade há
pouca gente capaz de recusar um prato de lentilhas.
Publicado originariamente no
jornal O DIA, em 22/05/2016, pag. 14.
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