segunda-feira, 30 de maio de 2016

Tudo por um prato de lentinhas!


“Defensores de direitos sociais, sem definição do espectro ideológico no qual se situam, podem assumir qualquer viés. Normalmente tendem à direita e ao oportunismo, sejam militantes pelos direitos humanos, feministas, movimento negro ou outros. Desde a antiguidade há pouca gente capaz de recusar um prato de lentilhas”.
A professora Flávia Piovesan, jurista, feminista e militante pelos Direitos Humanos foi convidada para o cargo de Secretária de Direitos Humanos e aceitou. Será subordinada ao Ministro da Justiça Alexandre de Moraes, cuja trajetória e história merecem artigo exclusivo. Vai integrar um governo interino composto exclusivamente por ministros homens. Outras mulheres, anteriormente, recusaram o convite. A discussão sobre a legitimidade do presidente interino, o rebaixamento do nível do cargo que era ministério e a descrença na possibilidade de desempenho de qualquer política de valorização dos direitos inerentes à pessoa humana num cenário de predomínio dos interesses do capital em prejuízo das pessoas motivaram as recusas, além de ser um governo repleto de figurinhas carimbadas com atributos que não se caracterizam por virtudes republicanas.
A derrubada de uma presidenta eleita com 54 milhões de votos ainda causa perplexidade e nos rememora o tempo da UDN que somente reconhecia a legitimidade das eleições que vencia. Depois da eleição do presidente Lula em 2002 as eleições jamais foram tranquilas. A mídia corporativa levou os pleitos de 2006, 2010 e 2014 para o segundo turno com denúncias que apenas se noticiavam durante o período eleitoral. Nas eleições de 2006 um acidente de avião provocou a acusação de falta de ranhuras na pista reformada do aeroporto de Congonhas. Depois da eleição se noticiou que o defeito era da aeronave. Na eleição de 2010 o tema badalado diariamente foi uma acusação à ministra Erenice Guerra. Passada a eleição o telejornal de maior audiência anunciou, em míseros 17 segundos, que tudo o que noticiara fora arquivado a pedido do MP. O clima nas eleições de 2014 foi tenso e o resultado não foi acolhido pelos perdedores que articularam o golpe que afastou a presidenta. A composição do governo por pessoas cujo projeto foi rejeitado nas urnas é uma ofensa à democracia e um desrespeito ao povo brasileiro.
Defensores de direitos sociais, sem definição do espectro ideológico no qual se situam, podem assumir qualquer viés. Normalmente tendem à direita e ao oportunismo, sejam militantes pelos direitos humanos, feministas, movimento negro ou outros. Desde a antiguidade há pouca gente capaz de recusar um prato de lentilhas.

 

Publicado originariamente no jornal O DIA, em 22/05/2016, pag. 14.

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