“Num dos
capítulos do livro ‘Lavoura Arcaica’, Raduan Nassar narra a estória de um
faminto que pedira comida a um homem rico. Este, simulando lhe entregar comida,
perguntava sobre o gosto do que simulava oferecer. O faminto fingia degustar.
Ao fim, o ‘mandão’ lhe deu pão, merecido porque demonstrou paciência. “O
faminto, dobrando-se de dor, pensou com seus botões que os pobres deviam
mostrar muita paciência diante dos caprichos dos poderosos, abstendo-se por
isso de dar mostras de irritação”. Raduan não é faminto por prêmios e por isso
irritou o ministro, senhor de sigla partidária que registrou para impedir que
outros a usassem na luta do povo”.
O
imbróglio no qual o ministro da cultura, Roberto Freire, se meteu na semana
passada na solenidade de entrega do Prêmio Luiz de Camões ao escritor Raduan
Nassar demonstra que o ministro não está à altura da pasta que ocupa. Se
conhecesse o Brasil e a obra de quem se homenageava, o ministro teria ficado
calado e não lhe teria buscado injuriar quando o momento era de celebração.
O
ministro, senhor de Pernambuco, agiu como os chefes provincianos que apenas
reconhecem o direito de fala do interlocutor quando quer ouvir e que mandam
calar quando querem o silêncio. Os ‘donos do Brasil’ tratam a liberdade de
expressão como uma dádiva que deferem ao povo quando querem ouvir.
Mas o
povo inventou maneira de resistir e resiste. Darcy Ribeiro falou da classe dominante
brasileira, inculta e por vezes com mero verniz de ilustração, razão de nosso
subdesenvolvimento. Roberto Freire é exemplo dela: muita empáfia e pouco
conteúdo; mero amanuense de um governo sem voto.
No
‘Manifesto Antropofágico’, certidão de nascimento da brasilidade, Oswaldo de
Andrade escreveu que “nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval”. E fazer
Carnaval é nosso jeito de zombar das ‘otoridades’ que se julgam sérias.
O governo
golpista que tenta manter a tentativa de catequização do povo brasileiro, com
bons modos vindos com as caravelas, e suas mulheres “belas, recatadas e do
lar”, não tem lugar nesta terra onde o povo não se lhe submete nem se deixa
dominar.
Melhor
que o recato lusitano são as imagens que circulam nas redes sociais da bela
moça tão bem vestida quanto uma índia e que já rendeu condenação de quem vazou
tais imagens próprias para esta época carnavalesca.
Num dos
capítulos do livro ‘Lavoura Arcaica’, Raduan Nassar narra a estória de um
faminto que pedira comida a um homem rico. Este, simulando lhe entregar comida,
perguntava sobre o gosto do que simulava oferecer. O faminto fingia degustar.
Ao fim, o ‘mandão’ lhe deu pão, merecido porque demonstrou paciência. “O
faminto, dobrando-se de dor, pensou com seus botões que os pobres deviam
mostrar muita paciência diante dos caprichos dos poderosos, abstendo-se por
isso de dar mostras de irritação”. Raduan não é faminto por prêmios e por isso
irritou o ministro, senhor de sigla partidária que registrou para impedir que
outros a usassem na luta do povo.
Publicado originariamente
no jornal O DIA, pag. 9, em 28/02/2017. Link: http://odia.ig.com.br/opiniao/2017-02-25/joao-batista-damasceno-um-carnaval-com-ministro-sem-cultura.html
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