Está em andamento no Estado do Rio projeto de
remissão da pena dos condenados a privação de liberdade pela leitura. A exemplo
do que ocorre com a remição pelo trabalho, o preso poderá descontar da sua
pena dias ocupados com leitura. O projeto é ambicioso e já é executado com
êxito em outros estados.
A existência de uma pessoa é finita, assim como são
finitas as possibilidades de experiências humanas. Mas a possibilidade de
compartilhamento das experiências alheias por meio da literatura é infinita,
tanto quanto uma pessoa se disponha a explorar o universo do outro.
O projeto de remissão da pena pela leitura tem
várias possibilidades de recuperação. Um traficante da Zona Sul perguntou a um
professor se ele lesse Machado de Assis seria uma pessoa melhor. O professor,
filho de banqueiro, se dispôs a financiar a leitura das obras pelo traficante,
desde que ele se ausentasse do país para fazê-lo. Assim foi feito.
Mas a polícia descobriu que o filho do banqueiro
mandava dinheiro para o exterior para custeio do traficante e o indiciou pela
assistência material. O traficante foi trazido para o Brasil, preso para
cumprimento da pena e posteriormente morto por uma facção rival no Complexo
Penitenciário de Bangu.
A leitura pelo preso pode lhe diminuir a ansiedade,
pode lhe descortinar novos horizontes; em relação aos presos analfabetos, pode
gerar a socialização para a compreensão da história, ao invés da interação para
a cogitação ou prática de crimes de dentro do presídio; pode ainda estimular
aqueles que não sabem ler, ou não têm o hábito da leitura, a aprender.
Num mundo no qual tudo se tornou veloz e não é
possível acompanhar as ocorrências, tampouco as inúmeras informações dos
noticiários, a ansiedade e o mal-estar são permanentes. Esta é uma das causas
do consumo de drogas variadas, lícitas e ilícitas.
Mas a literatura, além de todos os seus benefícios,
pode ser terapêutica. Pode ser meio de convivência com o universo narrado. A
literatura pode ser a alma de um mundo sem alma; o coração de um mundo sem
coração.
A leitura pelos presos, como forma de remissão da
pena, pode ser meio que o sistema carcerário encontrou para devolver à
sociedade os presos em melhores condições que da entrada no sistema.
Publicado originariamente no jornal O DIA, em
15/07/2017, pag. 9. Link: http://odia.ig.com.br/opiniao/2017-07-15/joao-batista-damasceno-remissao-pela-leitura.html
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